sexta-feira, 9 de outubro de 2009

POSFÁCIO




Acabou que voltamos para a sala onde tudo havia começado. Tudo estava perfeitamente normal, desde o desespero de sermos pegos até o barulho violento da chuva. Mais por sorte do que por milagre, conseguimos sair da sala sem sermos vistos, e por conseqüência, não seríamos expulsos. 
Voltamos naquela sala mais algumas vezes, escondidos, e viajamos para tantos lugares quanto tínhamos direito, aproveitando o conhecimento para nossos trabalhos. Eu poderia lhe contar todas as aventuras, mas tenho a sensação que voce realmente, não acreditaria.



Duas semanas depois, vimos militares rondando a universidade, e, depois disso, boatos de que uma máquina gigantesca havia sido carregada do bloco R3. Nós não tínhamos mais como conhecer a história do jeito que ela realmente aconteceu, e provavelmente nenhum de nós se arriscaria de novo.


Só o que sabemos é que o tempo segue uma linha infinita, talvez cíclica. E que não cabe a nós mudar o curso da História, quando nossa existência depende dos resultados dela. Mas podemos lhe dizer que assisti-la acontecer de camarote é algo indescritível e único. Meu conselho é que você deixe o tempo lhe tornar imparcial, deixe-o lhe tornar um nômade, do tempo.

fim


PARIS, FRANÇA




Apertei os olhos. Não havia uma sala, não havia uma porta, não havia um teto. De fato, havia paredes, mas não eram as mesmas. Eu estava num... beco? Eu realmente não estava entendendo nada. Será que eu tinha desmaiado e não percebi quando me carregaram? E se me carregaram, pra onde me trouxeram? Ou talvez, eu havia morrido? Se fosse verdade, então a morte é rápida e a passagem é curta. Porém, meu corpo continuava de carne e osso, e eu ainda podia ouvir meu coração batendo. Eu estava vivo, ou pelo menos eu achava que estava.
As últimas imagens da minha cabeça eram feitas de pura luz branca e um barulho irritante. Foi então que lembrei da chuva... e que agora havia parado. Havia sol, nuvens. Muito tempo deveria ter passado. As paredes ao meu redor eram feitas de tijolos, com janelas de peitoril alto. A rua na qual eu estava pisando era de pedra, e as calçadas do meu lado não deviam ter mais de cinqüenta centímetros. Aonde quer que fosse isso, Pinhalzinho não era, e acho que muito menos Chapecó. Quanto mais eu pensava e analisava a situação, mais o medo tomava conta de minhas emoções. Foi então que ouvi uma voz.


_ Aonde estamos? – disse Mariana.


Quando percebi que não estava sozinho, uma súbita felicidade invadiu meu coração. Aonde quer que eu estivesse, pelo menos estava com pessoas que eu conhecia, e me relacionava bem. Eram os mesmos que eu deixei pra trás, cinco minutos antes, quando fechei os olhos. E agora lá estavam eles: Matheus, Gabriela, Andréia e Mariana, todos imóveis, assustados como eu também estava. Atrás deles, estava o motivo dessa confusão. A máquina estava parada na calçada, desligada. Os arcos e placas feitos de cobre brilhavam tanto quanto antes. O sol reluzia pouco no beco, devido à altura das paredes. E mesmo assim, aquele monstro parecia feito de ouro.


_ Não tenho a menor idéia – disse Gabriela.
_ Isso é um beco? – perguntou Andréia – como é que viemos parar aqui? Estamos mortos?
_ Acho que não. – Matheus respondeu a pergunta extremamente calmo. Eu não sabia se ele estava mesmo relaxado, ou se no segundo seguinte ele cairia em desespero, como todos nós – Mas tenho um palpite. Eu estava pensando, e acho que aquele número que digitei no painel não era uma senha, nem um código de acesso.
_ Não? – perguntou Gabi – então o que era?
_ Um ano. – disse Matheus.
_ Heiin? Não entendi – disse Mariana.
_ Um ano. Acho que a gente poderia ter digitado qualquer número, que teria acontecido à mesma coisa. Digitamos aquele porque vimos na porta e relacionamos como uma senha, ou código. Mas não passava do próprio número do projeto. Porém, no painel havia outras informações, como nomes de países, estados, datas, meses, latitudes e longitudes...
_ Matheus, não to entendendo. – interrompeu Gabi.
_ Acho que aqueles homens, que ouvimos nas escadas, descobriram uma máquina do tempo.
_ AHHH FALA SÉRIO! Não viaja! – disse Mariana irritada.
_ Vejam vocês mesmos Mariana! Estamos num lugar que não temos idéia de onde seja, com cores, cheiros, texturas e materiais diferentes do que conhecemos! Agora se perguntem: como viemos parar aqui em trinta segundos? A porta estava trancada. Não tem como termos saído. E se tivéssemos, não tem nada parecido com isso na Uno. Além do mais, cadê a chuva? O mundo estava desabando em água e agora tem sol? Estranho isso não acha?


Nunca algo que o Matheus tivesse dito, havia feito tanto sentido pra mim. Se aquela era mesmo uma máquina do tempo, então estávamos interferindo na história, e era estranho considerar isso. Decidi ficar calado, imerso em meus pensamentos, ouvindo os quatro conversando e discutindo situações que provassem que não estávamos viajando no tempo, e Matheus defendia todas elas, muito bem argumentadas, reforçando a real função daquela máquina. Eu não sabia se ria, ou se chorava. Era realmente uma descoberta incrível, sem tirar uma vírgula do que aqueles homens haviam falado quando descreveram orgulhosos este experimento. Mas eu não sabia voltar pra casa, e também não sabia se voltaria. Talvez - e era muito provável - eu viveria meus próximos sessenta anos, tentando me adaptar a esse século, a essa época e a esse lugar.


_ Tudo bem! Então vamos considerar que viajamos MESMO no tempo – disse Gabriela – Para onde viemos exatamente?
_ Paris, França, 1899. – respondeu Matheus com firmeza.


Ninguém ousou comentar mais nada. Todos permaneceram no silêncio, absorvendo as últimas palavras de Matheus. Ao longe, avistei um senhor, andando na nossa direção. Propus que a prova real do que estaa acontecendo poderia ser tirada se perguntássemos para ele onde estávamos, em que tempo, e em que época.


_ Boa tarde senhor. Tudo bem? – eu disse parecendo o mais educado possível.


De primeira, ele não respondeu. E eu esperei. Era um homem de estatura média, caucasiano, usando calça e camisa social, com colete sobreposto. As feições do rosto deixavam claro que se tratava de um homem vivido, talvez de uns setenta anos. Ficou imóvel, me analisando, fitando meus olhos como se procurasse saber quais eram minhas reais intenções, ou o que eu pretendia. Depois, analisou do mesmo jeito cada uma das outras quatro pessoas que estavam paradas logo atrás de mim. Pude ver que enquanto ele olhava, não disfarçava suas expressões, erguendo as sobrancelhas toda vez que algo não lhe agradava. Então arrisquei:


_ Desculpe o incômodo senhor, mas só gostaria de saber onde estamos e que dia é hoje.


Silêncio. Ele não me respondeu. Na verdade, olhou mais uma vez no fundo dos meus olhos e foi embora.


_ Não entendo. Porque ele não me respondeu? – perguntei indignado.
_ AAAH! Claro! Se estamos mesmo na França, ele não deve falar Português. – disse Andréia.
_ Eu sei falar Francês! – disse Gabi.


Então ela correu na frente e tentou mais uma vez chamar o homem que a pouco havia nos dado as costas.


_ Désolé, l'excuse! (Desculpe, com licença!) – disse Gabi
_ Oui? (Sim?) – respondeu o homem educadamente, virando-se para encarar.


Ele era francês. Então deveríamos estar mesmo em Paris, o que afirmava e tornava real cada palavra do palpite de Matheus. Custava - para todos nós - acreditar que era possível viajar no tempo. Não era um filme, não era um livro. Era real. E sendo real, imaginem como tal descoberta mudaria nossa percepção da História, obrigando as Nações a mudarem seus livros, seus conceitos, seus cidadãos. Esse era um dos pensamentos que eu gostaria de evitar. Por enquanto.


_ Désolé, mais quel est ce lieu? (Desculpe, mas que lugar é esse?) – perguntou Gabi.
_ C'est Paris, bien sûr! (Esta é Paris, é claro!) – disse orgulhoso.
_ Huum... Paris en quelle année? (Paris de qual ano?)
_ 31 mars 1899. (31 de março de 1899) Qui êtes vous? (Quem são vocês?) – perguntou o homem curioso.
_ Ahh... Err... Pourquoi? (Por quê?) – disse Gabi tentando ganhar tempo.
_ Vous êtes donc ... étrangers. (Vocês são tão... estranhos.)
_ Ahh... Oui oui! Est que nous sommes des nomades. Nous Voyage beaucoup et nous avons perdu la trace du temps! (Sim sim! É que nós somos nômades. Viajamos muito e por isso perdemos a noção do tempo!)
_ Huum… Sont ensuite expliquées. Ses vêtements sont moches, et étrange. Ils pourraient même être des nomades. (Está explicado então. Suas roupas são feias, e estranhas. Só poderiam ser nômades mesmo.)
_ Merci! Nous marchons alors ... (Muito obrigada! Nós vamos andando então...)
_ Il n'y a pas de quoi. (De nada.)


Quando Gabi voltou ao nosso encontro, contou o que havia conversado com o velho. Então agora sabíamos onde estávamos, e o que tinha acontecido naquela sala. Conversamos por vários minutos os benefícios e as conseqüências que essa descoberta traria para os seres humanos. De certa forma, nós éramos pessoas de sorte por ter uma oportunidade única como essa. Andamos mais um pouco por aquelas ruas, conhecendo a grande Paris de 1899. Havia cartazes nas paredes, e percebemos que a cidade estava realizando uma grande festa naquele dia: os 10 anos de inauguração da Torre Eiffel. Conforme nos misturávamos com as pessoas, mais elas olhavam desconfiadas. Deviam ser nossas roupas, claro. Andréia não parava de dizer que eram eles quem estavam atrasados 100 anos na moda, e não a gente.
Foi então que decidimos voltar para o lugar de onde surgimos, e tentar voltar pra casa. Programar a máquina para voltar para a Uno foi à parte mais difícil. A gente não sabia as coordenadas daquela sala, e, diga-se de passagem, peguei G3 em topografia. Por sorte, os painéis contavam com um sistema de mapas, que localizavam o que queríamos. Dez minutos depois, a luz, o barulho, tudo recomeçou. Aos poucos tudo foi sumindo, como antes, até eu não conseguir enxergar nem mesmo meu próprio corpo. E como antes, o barulho cessou. E o esperado aconteceu. [...]

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Nº 1899



Acabou que eu entrei primeiro. Como sempre. Estávamos violando uma área restrita para estudantes. Meu coração batia feito um tambor, saltando pela minha garganta. Eu quase podia ouvir um ritmo africano, cheio de tambores vindos de Andréia, Mariana, Gabriela e Matheus. A sala não passava de um micro escritório com vários computadores e mais quatro portas. Nas plaquetas, haviam informações do que poderíamos encontrar do outro lado dessas portas: “LABORATÓRIO I”, “LABORATÓRIO II”, “DEPÓSITO”, e a que realmente nos chamou a atenção: “PROJETO ESPECIAL nº 1899”.
Bom, havia uma sala para um único experimento, o que era estranho. Deveria se tratar de algo bem grande, no sentido físico e sólido, ou deveria ser algo grande como descoberta, inovação e segredo, e que, por sinal, era a resposta mais óbvia.
Minha imaginação tomava conta de todo meu ser. Saber o que havia além daquela porta tinha se tornado meu único objetivo. Meus pés andavam automaticamente, minha mão se esticara, procurando tocar o metal frio da maçaneta, meu coração palpitava violentamente e talvez a chuva havia parado.
De repente, alguém segurou meu braço com força.


_ Meu Deus Dudes! Te chamei 3 vezes meu! – disse Mariana num dos seus repentinos ataques de espontaneidade – aonde você pensa que vai? Vamos sair daqui, não tem nada de mais, só computadores.
_ Não, eu quero ver o que tem lá – eu disse apontando para a porta – e já que chegamos até aqui, vamos ver o que tem atrás daquela porta. Por favor? Prometo que é só aquela e vamos embora.


Foi como se aquela puxada havia me trazido de volta ao mundo real. A chuva parecia mais violenta que antes, Andréia, Gabriela e Matheus estavam logo atrás de Mariana, me olhando assustados, como se eu tivesse fugido de um hospício.


_ Ta, vamos então Mari – disse Gabise pegarem à gente estamos lascados do mesmo jeito, não custa nada nessa altura do campeonato.
_ Então continua indo na frente Dudes – disse Mariana com um tapinha nas costas.


Virei meu rosto de volta para a porta. As palavras “PROJETO ESPECIAL nº 1899” pairavam na minha cabeça como se isso fosse à última coisa que eu iria fazer na vida. Quando toquei na maçaneta, achei que meu coração iria parar. Ninguém atrás de mim parecia se mexer. Eu me sentia sozinho. Num súbito de ansiedade, fechei os olhos e abri a porta.










_ É só isso? – perguntou Mariana, respirando pela primeira vezAi meu, é só uma máquina, e eu achando que fossemos encontrar algo mais... exótico.
_ Calma Mariana, nós nem sabemos pra que serve ainda – disse Andréia passando por mim e caminhando para perto do objeto.


De fato, era só uma máquina. Uma gigantesca máquina. Cheia de botões, arcos e números, feitos de um cobre tão brilhoso que parecia dourado. Sem me mexer, fiquei observando todos caminhando ao redor de uma sala vazia e escura, com uma única luz branca mirando a experiência.
Os minutos seguintes aconteceram tão rápido que a imagem na minha cabeça não passa de um borrão. Andréia havia apertado algum botão, e por um instante achei que a máquina fosse algum tipo de monstro. Ela se abria como um objeto inteligente, acendendo luzes e desdobrando painéis metálicos que saltavam para frente, esperando novos comandos. De longe, eu via arcos dourados segurando esferas do mesmo material, girando e brilhando.
A porta atrás de mim fechou e só me dei conta quando ouvi um estalo de trinco encaixando. Quando me virei para avisar os outros, a máquina havia parado. Aberta, ela ocupava quase toda a sala, e agora estava disposta em forma de círculo. Percebi que Matheus era o único que realmente se mexia, deixando os outros estacados no centro. Ele tocava os painéis, olhando para os números, códigos e desenhos. Caminhei lentamente para o lado de Gabi, que não disse nada quando me aproximei.


_ Ei! Tem um computador embutido aqui, pedindo pra digitar um número. - Disse Matheus analisando os painéis - Acho que é algum tipo de chave de acesso, seja lá o que for isso. E tem também nome de países, com seus respectivos estados e...
_ Ai, caralho Matheus! - explodiu Mariana - O que é isso afinal? Essa coisa praticamente me jogou pra dentro dela como se fosse uma planta carnívora! Vamos sair daqui.


De repente lembrei que a única porta havia se trancado e nós estávamos presos. Provavelmente, seríamos expulsos da Universidade por violar uma área restrita. Meu pai com certeza iria me matar!


_ Errr... Impossível - eu disse - seja lá MESMO o que for isso, essa coisa também trancou a porta. Estamos presos.
_ O QUÊ?! - Disseram quase todos juntos.
_ Calma gente, não tenho culpa!
_ Se você tivesse dado meia volta quando eu agarrei teu braço, nós NÃO estaríamos lascados desse jeito meu! – falava Mariana completamente alterada.
_ Calma Mariana, a gente vai resolver isso – disse Gabi relaxada – a porta deve ter trancado quando a Déia apertou um desses botões... Se a gente colocar a senha no painel provavelmente estaremos livres.
_ Ai, é bom mesmo – disse Mariana.
_ Ótimo. Alguém pelo menos tem idéia de qual pode ser a senha pra colocar nesse painel? – perguntou Andréia.
_ Se o nome disso aqui é Projeto Especial nº 1899, vai ver a senha também seja essa... 1899. – Concluiu Matheus.
_ Ainda bem que a gente tem você Matheus – disse Gabi.


Bastou digitar o número no painel para a máquina ganhar vida. As esferas voltaram a girar e as luzes ficaram intensas. Os arcos e os painéis começaram a se dobrar novamente, fazendo com que ficássemos cada vez mais exprimidos e apertados. Não enxergava ninguém ao meu redor. A intensidade da luz não deixava visível nem meu próprio corpo. O barulho que vinha da máquina, misturado com o da chuva, não deixava que nós nos encontrássemos pela voz. Estávamos perdidos. Nosso futuro agora era incerto. Eu não sabia se voltaria para casa naquela noite, se seríamos expulsos ou se por um verdadeiro milagre, aquela porta abriria e todos iríamos embora, imunes. Meu coração estava acelerado de angústia, medo e desespero. Queria voltar no tempo, meia hora antes, e fingir não ter ouvido a conversa daqueles homens nas escadas.


E de repente, tudo parou. O barulho cessou. A luz do ambiente voltou ao normal e aos poucos fui definindo as linhas e curvas ao meu redor. E o inesperado aconteceu. Tudo estava diferente, mudado. Não havia mais sala. Não havia mais nada. [...]

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

COMO TUDO COMEÇOU




Eram 6:00h. Da tarde. Eram 6:00h e parecia que o relógio batia meia noite. Chapecó praticamente inundava com a quantidade de água que descia do céu. O tempo estava negro e fazia frio. Mesmo assim, cinco estudantes de arquitetura e urbanismo tentavam não tomar o 9° banho do dia.  
Encolhidos – pra não dizer abraçados – embaixo da escada do R3, estávamos sentados nos bancos, fugindo das goteiras e esperando pela próxima aula: Teoria e História da Arte, Arquitetura e Cidade III. Apesar dos trovões violentos que soavam do lado de fora, ouvimos passos acelerados nas escadas, acima de nossa cabeça.


_ Meu Deus! É uma descoberta incrível! Do século! Se patentearmos estaremos milionários! – Dizia uma voz masculina.
_ Mas temos que manter isso em segredo. retrucava uma outra voz, grave e também masculina - Não queremos nenhum intruso violando as descobertas do ICA.


Rapidamente, as vozes se misturaram com o barulho da chuva até desaparecerem. Sentado no banco, meus olhos fitaram os de Mariana, Andréia, Matheus e Gabriela. Será que eles tinham ouvido o mesmo que eu? Pelo menos eles retribuíram o olhar com o mesmo senso de dúvida.
           
_ Cara, eu ouvi mesmo Wicca? A religião dos pagãos? – arrisquei.
_ Dudes, acho que era ICA – disse Mariana – Meeeedo!
_ Já ouvi falar – interrompeu Andréia – tenho um amigo de Balneário que já fez um estágio nisso. Se não estou enganada, ICA significa Instituto Científico de Arquitetura... É tipo uma organização que realiza pesquisas científicas dentro da nossa área, mas não sabia que a Uno tinha um. Até porque isso é muito pouco divulgado...
_ De arquitetura? – perguntou Matheus – Que estranho.
_ De arquitetura ou não, científico ou artístico, tem alguma coisa que aqueles dois homens estão escondendo dos ‘intrusos’ – disse Gabi – e acho que deveríamos subir e conferir do que se trata.
_ Eu não vou. Eles podem voltar – disse Matheus guardando alguns materiais na mochila e fechando o zíper.
_ Meu, eu topo – falava Mariana empolgada – além do mais Matheus, nós estamos aqui encharcados, meu cabelo ta uma palha e duvido que eles voltem com toda essa chuva.
_ ÉÉÉÉ, essa eu quero ver também – dizia Andréia enquanto se levantava – Mas antes, vem comigo no banheiro Mary Jane? Tenho a sensação que to parecendo a ovelha Dolly.


Eu quase caí com a gargalhada. Mariana levantou-se para acompanhar e ria também, da minha risada. Gabi propôs que enquanto as duas fossem ao banheiro, Eu, Ela e o Matheus fôssemos subindo para verificar o boato.
Cinco minutos depois, estávamos parados em frente ao letreiro de uma das portas do terceiro piso do R3, as letras em metal deixavam claro o que se tratava aquela sala: “ICA – Instituto Científico de Arquitetura”. A Déia tinha razão, e como se não bastasse, havia, bem no centro da porta uma frase em vermelho vivo: “PERIGO. NÃO entre. Entrada restrita para funcionários do ICA”.


            _ Será que foi escrito com sangue? – perguntei.


Gabi e Matheus riram.


            _ Sim Dudi, e provavelmente o corpo deve estar andando pela universidade! – ria Gabi.


Bom, era óbvio que sangue não era. Para alguém que tem epilepsia e desmaia quando vê sangue, esse seria de todas as formas o primeiro pensamento que me viria à cabeça. Além do mais, também não tenho culpa se às vezes penso alto demais e...


_ AI! – o grito de Gabi interrompeu meus pensamentos. Vi Matheus dando um salto de susto com o grito, e naturalmente, a imagem do corpo perambulando a Uno surgia na minha cabeça. Em seguida, a gargalhada de Mariana quebrava todo o terror.
_ Chegamoooos! – anunciava Mariana animada – Meu Deus Gabriela, viu um fantasma?
_ Ai Mariana, que susto! – respondeu.


Eu e Matheus rimos.
           
_ Calma Gabi, mortos ainda não sobem escadas... – debochava Matheus.
          _ Mortos? Credo gente, do que vocês tão falando? – perguntou Andréia.
         _ Nada, nada – eu disse – mas parece que você tinha razão Déia, existe mesmo um Instituto Científico na Uno. O estranho é que nunca ouvimos falar dele.


Os três minutos seguintes correram imersos no silêncio. Eu só conseguia ouvir o horripilante som do temporal caindo a alguns metros de nós, e não podia evitar de pensar como o clima deixava tudo mais macabro.


           _ E então? Quem vai primeiro? – perguntei. [...]


domingo, 4 de outubro de 2009

PREFÁCIO





Nômades são aqueles cuja vida é uma viagem. Sem fronteiras, sem limites, sem tempo determinado. Ser nômade é dizer sim para a aventura, para o desconhecido, para tudo que existe além da nossa imaginação.


O tempo é o ponteiro invisível da vida. Escondido nas pessoas que nunca mais vimos, nas fotos reveladas, nas lembranças esquecidas, nas páginas amareladas. É ignorar a gravidade, riscando na areia nossa fragilidade. É como abraçar o sopro do infinito, trazendo a esperança das ações que virão, lhe tornando imparcial, lhe tornando um nômade, do tempo.