segunda-feira, 5 de outubro de 2009

COMO TUDO COMEÇOU




Eram 6:00h. Da tarde. Eram 6:00h e parecia que o relógio batia meia noite. Chapecó praticamente inundava com a quantidade de água que descia do céu. O tempo estava negro e fazia frio. Mesmo assim, cinco estudantes de arquitetura e urbanismo tentavam não tomar o 9° banho do dia.  
Encolhidos – pra não dizer abraçados – embaixo da escada do R3, estávamos sentados nos bancos, fugindo das goteiras e esperando pela próxima aula: Teoria e História da Arte, Arquitetura e Cidade III. Apesar dos trovões violentos que soavam do lado de fora, ouvimos passos acelerados nas escadas, acima de nossa cabeça.


_ Meu Deus! É uma descoberta incrível! Do século! Se patentearmos estaremos milionários! – Dizia uma voz masculina.
_ Mas temos que manter isso em segredo. retrucava uma outra voz, grave e também masculina - Não queremos nenhum intruso violando as descobertas do ICA.


Rapidamente, as vozes se misturaram com o barulho da chuva até desaparecerem. Sentado no banco, meus olhos fitaram os de Mariana, Andréia, Matheus e Gabriela. Será que eles tinham ouvido o mesmo que eu? Pelo menos eles retribuíram o olhar com o mesmo senso de dúvida.
           
_ Cara, eu ouvi mesmo Wicca? A religião dos pagãos? – arrisquei.
_ Dudes, acho que era ICA – disse Mariana – Meeeedo!
_ Já ouvi falar – interrompeu Andréia – tenho um amigo de Balneário que já fez um estágio nisso. Se não estou enganada, ICA significa Instituto Científico de Arquitetura... É tipo uma organização que realiza pesquisas científicas dentro da nossa área, mas não sabia que a Uno tinha um. Até porque isso é muito pouco divulgado...
_ De arquitetura? – perguntou Matheus – Que estranho.
_ De arquitetura ou não, científico ou artístico, tem alguma coisa que aqueles dois homens estão escondendo dos ‘intrusos’ – disse Gabi – e acho que deveríamos subir e conferir do que se trata.
_ Eu não vou. Eles podem voltar – disse Matheus guardando alguns materiais na mochila e fechando o zíper.
_ Meu, eu topo – falava Mariana empolgada – além do mais Matheus, nós estamos aqui encharcados, meu cabelo ta uma palha e duvido que eles voltem com toda essa chuva.
_ ÉÉÉÉ, essa eu quero ver também – dizia Andréia enquanto se levantava – Mas antes, vem comigo no banheiro Mary Jane? Tenho a sensação que to parecendo a ovelha Dolly.


Eu quase caí com a gargalhada. Mariana levantou-se para acompanhar e ria também, da minha risada. Gabi propôs que enquanto as duas fossem ao banheiro, Eu, Ela e o Matheus fôssemos subindo para verificar o boato.
Cinco minutos depois, estávamos parados em frente ao letreiro de uma das portas do terceiro piso do R3, as letras em metal deixavam claro o que se tratava aquela sala: “ICA – Instituto Científico de Arquitetura”. A Déia tinha razão, e como se não bastasse, havia, bem no centro da porta uma frase em vermelho vivo: “PERIGO. NÃO entre. Entrada restrita para funcionários do ICA”.


            _ Será que foi escrito com sangue? – perguntei.


Gabi e Matheus riram.


            _ Sim Dudi, e provavelmente o corpo deve estar andando pela universidade! – ria Gabi.


Bom, era óbvio que sangue não era. Para alguém que tem epilepsia e desmaia quando vê sangue, esse seria de todas as formas o primeiro pensamento que me viria à cabeça. Além do mais, também não tenho culpa se às vezes penso alto demais e...


_ AI! – o grito de Gabi interrompeu meus pensamentos. Vi Matheus dando um salto de susto com o grito, e naturalmente, a imagem do corpo perambulando a Uno surgia na minha cabeça. Em seguida, a gargalhada de Mariana quebrava todo o terror.
_ Chegamoooos! – anunciava Mariana animada – Meu Deus Gabriela, viu um fantasma?
_ Ai Mariana, que susto! – respondeu.


Eu e Matheus rimos.
           
_ Calma Gabi, mortos ainda não sobem escadas... – debochava Matheus.
          _ Mortos? Credo gente, do que vocês tão falando? – perguntou Andréia.
         _ Nada, nada – eu disse – mas parece que você tinha razão Déia, existe mesmo um Instituto Científico na Uno. O estranho é que nunca ouvimos falar dele.


Os três minutos seguintes correram imersos no silêncio. Eu só conseguia ouvir o horripilante som do temporal caindo a alguns metros de nós, e não podia evitar de pensar como o clima deixava tudo mais macabro.


           _ E então? Quem vai primeiro? – perguntei. [...]


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